sexta-feira, 18 de novembro de 2011


Eu gosto de ler, isso é fato. 2011 foi o ano da leitura. O ano que mais conheci livros legais, outros não tão legais assim, mas sempre válidos. A maioria dos livros que li eram primeiras edições publicadas nos séculos XVIII, XIX e início do XX (morram de inveja!). Me alfabetizei no português da época também. Tudo ótimo!

Mas no auge dos meus 23 anos eu sinto falta de ler coisas atuais. Minha trajetória literária foi marcada pela presença dos blogs. Sou blogueira desde os 16 anos e adoro a velocidade da informação na internet. Adoro os diálogos entre os autores, as discussões, e apesar de estar meio capenga nesse quesito, estou sempre de olho no que está rolando na blogosfera. Porra, eu sou praticamente uma adolescente ainda. Será que só posso ser feliz literariamente com autores mortos?

Não sei se é porque eu fiquei mal acostumada, mas a verdade é que estou incansavelmente procurando por blogs de qualidade, e são poucos os que não são joio no meio do trigo. A blogosfera brasileira é medíocre. Ninguém é obrigado a dar uma de Foucault ao compor um blog, mas um pouco de coerência no próprio discurso é algo que os leitores cobram (e não estão errados em cobrar). Eu mesma cansei de me desiludir com a internet. Um dia você conhece um blog massa, de um autor massa, que escreve alguns textos massas. Você pensa "Ufa, me encontrei", mas de repente o tal autor prefere chamar de burro todos aqueles que não concordam com ele. E aí a cada vez que você abre a caixa de comentários do sujeito, a discussão está reduzida a se "fulaninho é burro ou não é?". Ou então é aquela autora que, a priore, você gostava da proposta dela, mas de repente a menina surta e fica utilizando uma doença para se promover.

Que existem trolls na internet isso é óbvio, mas quando você vê jornalistas renomados e professores universitários xingando muito no twitter, fica difícil saber quem é troll e quem não é. Ás vezes é mais fácil encontrar coerência e bom senso no blogdagatinhanomundodahellokitty.com, do que nos diários virtuais dos nossos brasileiros ilustres. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ah! Quer mesmo saber? Hoje eu estou feliz, apesar do dia cinzento que está lá fora, e apesar das minhas olheiras típicas de sábado de manhã. Estou feliz por mim mesma, por estar aqui de peito aberto, e por ter conquistado a empatia de algumas preciosas pessoas exatamente por isso, pelo meu peito, mente, corpo e coração abertos. Porque esse negócio de ser fechado não está com nada, e porque o preço que se paga em ser autêntico compensa.

E hoje me vejo aqui sozinha, de frente ao espelho, de cara com todas as minhas feiúras e me amando -  até porque ninguém é bonito descabelado, com a cara amassada, cheio de remela e com mal hálito, e todo mundo acorda assim. Amando o simples fato de poder decidir o que fazer com a minha vida. Pelo menos hoje não me preocupei com quem não gosta de mim, e somente dessa forma pude perceber que sim, eu me gosto. E eu adoro as coisas que faço, e adoro fazê-las. Esse é o meu combustível.

Então mulherada, quer saber? Foda-se que ele não gosta de você, que você comeu uma caixa de chocolates inteira, que você está alguns quilos acima do peso, que seu chefe está dando piti e que você borrou o rímel chorando num bar. Foda-se para todas essas coisas. Nenhuma delas ultrapassa o valor de ser assim, alguém com peito, mente, corpo e coração abertos.


"Eu não sou morna e, se você não quiser se queimar, morra na temperatura do vômito. E bem longe de mim." (Tati Bernardi) 


sexta-feira, 21 de outubro de 2011



Até pouco tempo atrás eu não era a mais estudiosa, nem a primeira da turma, e confesso que repeti de ano algumas vezes e que estive no "mobral". Em algumas matérias eu era realmente ruim, e em outras dava para segurar. História era a única disciplina que eu mandava realmente bem, e sempre a estudei (ou não estudei) de forma muito particular. É fato que aprendi mais história fora da sala de aula do que dentro dela.

Quando entrei na faculdade com recém-comemorados 18 anos, ou seja: uma fedelha sem nada na cabeça, não entendi muito bem o que acontecia ali. Eu sabia porque estava lá: eu queria estudar história. Mas não sabia que eu teria que me deparar com textos densos e teorias chatas. A verdade é que passei o primeiro semestre dormindo em todas as aulas do segundo horário, o que fez com que alguns professores não fossem com a minha cara de imediato. E o pior de tudo: eu era muito cara de pau. Não bastava dormir nas aulas, eu tinha sempre que, repentinamente levantar do nada, fazer algum comentário sobre a matéria, e voltar a dormir. Geralmente eles ficavam com cara de tacho - foi o que meus colegas disseram anos mais tarde.

A verdade é que no início não botaram muita fé em mim. Eu gostava de II Guerra Mundial, andava com o Mein Kampf por aí, e ainda por cima era contra as cotas raciais. Rolou até um boato de que eu era neo-nazista, e acreditem, nada é mais queima-filme em um curso de história do que ser conhecida como "a neo-nazista". É  a mesma coisa que ser o Nessahan Alita em um curso de estudos de gênero. Eu não era flor que se cheirasse.

Mas por algum motivo doido eu mandava bem naquilo lá. É verdade que fiquei longe de ser a mais responsável, mas eu compensava com o pouco de possível genialidade. Não, eu não era genial, apenas tinha lapsos geniais que volta e meia os outros percebiam, volta e meia não. Na maioria das vezes percebiam sim, pelo menos o suficiente para eu me formar com um histórico esteticamente admirável. Ou seja, não adiantou que não gostassem de mim ou que as teorias fossem chatas e os textos densos demais. Eu continuei fazendo aquilo que me propus a fazer, da mesma forma como continuo fazendo, mesmo com todos os obstáculos.

É foda todo esse lance de competitividade e escassez de oportunidades, uma vez que eu só consigo me enxergar fazendo isso. Não tem jeito, eu quis a história, a história me quis. Amor à primeira vista não acaba assim. Posso não ter conquistado a empatia dos historiadores, mas a história sempre me esteve de braços abertos. E só isso basta.





sexta-feira, 23 de setembro de 2011

E não importava o que ele fizesse, o que ele falasse, o que ele fosse. Ela nunca seria dele, não por uma necessidade inútil de desprezar e sair por cima, e sim porque ela nunca seria dele. Sabe aqueles homens que não fedem e nem cheiram? Sim, era exatamente isso que ele era: a maior expressão da indiferença.

Não que ele fosse feio ou burro. Não, o problema não era esse. Talvez em uma fotografia, calado, sem dizer merda, ele chamaria a sua atenção. Era fisicamente apreciável até. Tinha juventude, feições clássicas, pêlos em lugares estratégicos. Não, definitivamente, ele não era feio. Mas eles não se conheceram por meio de uma fotografia. Eles se conheceram por meio de convenções, naquela coisa sem cheirar e nem feder. "Oi, eu sou a fulana e estou aqui pelo mesmo motivo que você!". "Oi, eu sou o fulano. Vai chover?". O relacionamento entre os dois era perfeito assim, sem ultrapassar demais fronteiras. Ultrapassar fronteiras é até legal, mas quando é com alguém que lhe apetece. Ele não lhe apetecia.

Mas sabe-se lá por qual motivo maluco, ele começou a se interessar por ela, mas era da mesma forma como ele era interessado pela prostituta que pagava. Achava que por ter um pinto entre as pernas e alguma dose de poder, teria tudo o que quisesse. "Oi, eu tenho isso". "Oi eu tenho aquilo". "Oi, se você der para mim eu te dou tal coisa". Inútil. A indiferença dela era tanta que nem se dava o trabalho de se ofender com tais propostas.

Depois, no auge do desespero, o piá resolveu apelar para cantadas de pedreiro. "O que está acontecendo com os homens?", pensava ela. "Deve ser algo que colocam na água que abastece a cidade", concluiu.

Ela aprendeu o verdadeiro significado da palavra stalker. Ás vezes, dirigindo no trânsito, via um carro vermelho. E ele sempre estava na mesma via que ela, no mesmo local e na mesma hora. Ela não o via, ou quando via já era tarde demais. Um dia, incomodado com a rejeição, ele decidiu buzinar aleatoriamente no meio da rua. Ela não gostou de ter sido perturbada no meio da música.

Então foram aparecendo os recados deixados na secretária eletrônica, as investidas, as propostas indecentes e os fingimentos de amizade. E ela continuava indiferente, pois seguia aquela filosofia: - Se não só, que muito bem acompanhada!


sábado, 3 de setembro de 2011

Eduardo Galeano tem um conceito de história muito interessante que apresenta em Sangue Latino. Segundo ele: "E eu acredito que sim, o mundo deve estar feito de histórias, porque são as histórias que a gente conta, que a gente escuta, recria, multiplica. As histórias são as que permitem transformar o passado em presente e que, também, permitem transformar o distante em próximo. O que está distante em algo próximo, possível e visível". Dessa forma, Galeano dá um caráter móvel à história. Dessa forma a história passaria por diversas camadas da sociedade humana, com o potencial ainda de se transformar, recriar, permanecer ou se alterar. Tão móvel quanto o ser humano é. Esse conceito dá total ideia de movimento à história, e também à produção dela, visto que o historiador também é móvel e ativo, capaz de fazer diversos movimentos e tomar infinitas decisões.

Hannah Arendt remete a existência da história desde a existência de seres humanos (leia-se homo-sapiens). Esse debate tem, inclusive, provocado discussões na academia em relação ao termo pré-história, levando em consideração que, para alguns, o termo pré-história é preconceituoso, porque o "pré" pode gerar um significado como algo "menos que história".

Todos os seres humanos são produtores da história. Infelizes são os historiadores fossilizados que acreditam que esse mérito é apenas nosso. O ser humano com inúmeras possibilidades, tem a possibilidade de produção da história, e isso nós fazemos muito bem. Para produzir e dar significado à história não é preciso escolaridade, alfabetização ou níveis sociais e econômicos. Qualquer um pode fazer isso, sério, e todos fazem (really). Para produzir história, basta ter memória.

Qual é a sua história? De onde você veio? O que você aprendeu? O que você ouviu e o que você tem a dizer? Principalmente, o que você tem a dizer? A história não é apenas feita de silêncios (embora nós o aceitemos como possibilidade de discurso), mas também é feita de vozes, sussurros, gritos estridentes, pedidos de socorro, risos alegres e gemidos. E a história, aliada ao ser humano como princípio transformador, pode ajudá-lo a transformar a própria vida. E nisso, a história também se transforma, aceitando cada vez mais essa mobilidade e afastando-se de lugares-comuns.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sinto falta de meu pai, do colégio, dos cachorros que tive e já morreram. Sinto falta do que fui um dia, do que não fui, mas imaginei ser. Sinto falta de quando eu não era Ana, mas era Anita, inserida numa ingenuidade cruel que se julgava madura. Mas no final era só ingenuidade da criança que queria ser algo. Sinto falta dos meus diários, do meu diário, de todos os versos que fazia com facilidade e não consigo mais. Sinto falta dos meus contos, das crônicas e das cartas de amor. Será que em troca de ser feliz, me tiraram o que eu mais gostava em mim?

Quando eu conseguir escrever sem pretensões, sem prisões, sem amarras, sem limitações, sem medo dos julgamentos, sem medo do meu próprio julgamento e principalmente: sem medo de chorar e sofrer como uma bezerra desmamada, eu volto para cá.

quinta-feira, 31 de março de 2011

é.

Desmascarar os discursos sobre a “natureza” dos papéis sociais foi fundamental na epistemologia feministas contemporâneas, ponto de comunicação entre as teorias feministas, abalando o solo das “evidencias” científicas. Como continuar a falar de masculino /feminino ao longo da história da humanidade, sem perpetuar e reinstalar  a violência da “natureza” como mestra-organizadora? Este é o discurso do “natural” , de uma cientificidade que pretende substituir os dogmas religiosos, mas ao mesmo tempo vem reforça-los, pois funda-se em representações sociais fixas de feminino e masculino, a “verdadeira mulher” e o “verdadeiro homem”, cada qual em seu lugar, determinado pela “natureza” ou por “deus”.

Tânia Navarro Swain

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Genial!

terça-feira, 22 de março de 2011

"Confesso! As vezes tenho vontade de sair por ai destruindo corações, pisando em sentimentos alheios ou sei lá, alguma coisa que me faça realmente merecer esse meu sofrimento no amor."


Caio F. Abreu, pq ele me entende.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Entrei no msn e vejo online a dona do seguinte nick: Burras são as mulheres que se entregam fácil aos homens.

Fiquei raciocinando por um tempo, sem saber exatamente o que é ser fácil. Essa definição é difícil para mim. Será que sou fácil também?

Imaginei minha avó dizendo essa frase, mas ela nem ao menos sabe ligar um computador. Quando vi quem era, fiquei com medo. Era uma antiga colega do ensino médio que tem a minha idade.

Tentei imaginar, mais uma vez, o que é ser fácil. Me coloquei no lugar da autora da frase: Nunca ficou com ninguém, nunca beijou na boca, muito menos transou com alguém. Talvez, no máximo, tenha se masturbado em sua solidão, e isso não tem problema, porque estaria ela se masturbando sozinha, sem nenhum homem ao fazê-lo. Ela nunca se entregou fácil aos homens. Também nunca se entregou difícil. Ela simplesmente nunca se entregou a homem algum, e a mulher alguma e a ninguém.

Mesmo em sua virgindade digna de admiração e louvor de seu pai e de uma sociedade inteira, ela se importa com as mulheres que se entregam fácil aos homens. Essas mulheres loucas, filhas de satã, filhas de Eva, que levam os pobres homens à pérdição, afinal, se não existissem mulheres fáceis, os homens não cederiam aos encantos delas. Se não existissem mulheres fáceis, os homens não trairiam suas esposas e nem passariam o rodo nas micaretas. Mas hein, nem ao menos casada ela é para se preocupar com a "cornidão". Numa escala de 1 a 10 eu que deveria estar com medo das tais mulheres fáceis, afinal namoro e sou ciumenta confessa. Mas pelo visto as mulheres fáceis representam maior ameaça para ela.

Simplesmente não dá para dialogar com alguém assim. Mulher machista é pior do que homem machista. E para ela é fácil ser machista. Cresceu na classe média alta, nunca viu seu pai espancar sua mãe e nem traí-la. Nunca teve as oportunidades podadas e talvez nunca tenha sido discriminada diretamente pela genital que carrega entre as pernas. Dentro da sociedade patriarcal ela é a mulher que mais chega perto do topo da pirâmide (talvez a única mulher que possa estar no topo da pirâmide), afinal além de ter tido todas as vantagens de ter nascido em berço de ouro, ainda desaprova as tais mulheres fáceis. É o sonho de todo homem, de todo pai, de todo padre, e todos dizem amém.

É uma das que defendem que a mulher não tem direito ao próprio corpo. Pensando sob essa ótica, nem as mulheres fáceis tem. Se tivessem, não seriam reprovadas e nem vistas com escárnio. E é muito engraçado, a imagem da mulher (qualquer mulher) é sempre vista como intimamente atrelada à sexualidade. Uma sexualidade forte, marcante e ameaçadora. E olha só que engraçado, somos o único gênero que possui a sexualidade reprimida desde a infância, afinal meu pai nunca me incentivou a assistir pornografia e a dar para todos, e tenho certeza que os pais das mulheres fáceis também não. Mesmo assim somos tão más que mesmo condicionadas à castidade e santidão, tomamos o caminho contrário. As mulheres fáceis então, nem se fala! Estão na última base da pirâmide, perto do chão, perto do inferno, sentadas no colo do capeta.

E o que é ser fácil afinal? Difícil essa definição. Talvez seja qualquer mulher não-virgem (exceto as mães cuja maternidade foi concebida dentro do casamento), afinal o sexo para nós só serve para a procriação. Não podemos sentir prazer com ele jamais!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011



Quando eu era criança andava com uma menininha que era um porre, mas não tinha muita escolha. Não era eu quem escolhia minhas amizades, e segundo meus pais ela era a menina certa para andar comigo. Eles julgavam as outras crianças da quadra como más companhias. Ela era cruel. Por exemplo, um dia ela ganhou um lego, daqueles super phynos que depois de pronto, tínhamos a impressão de que o dragão sairia voando de verdade de dentro do castelo. Estávamos brincando embaixo do prédio, quando o porteiro chegou perto e ficou olhando para o brinquedo, talvez pensando "Será que é caro? Será que posso comprar um para os meus filhos?". Na mesma hora, Fernanda disse do alto de sua honra elitista: "Está olhando o que idiota? Sai daqui!". Eu deveria ter uns 7 anos, mas me senti mal com a atitude da garota, e de certa forma culpada por estar ali brincando com o lego dela, enquanto os filhos do porteiro não poderiam nem chegar perto.

Fernanda dizia que adorava passar trote por telefone. Um dia me confessou que ligou para uma pizzaria e pediu duas pizzas grandes, e mandou entregarem no endereço X. Quando argumentei que isso era errado, ela começou a rir de forma bastante maldosa. Disse que eu não sabia me divertir, que eu deveria parar de ser chata. Aonde diabos meus pais estavam com a cabeça por me deixarem andar justamente com ela? Tenho certeza que os filhos do porteiro tiveram educação melhor. Talvez qualquer outra criança da mesma quadra, ou até mesmo os maconheiros que ficavam a noite no parquinho.

Me mudei e só encontrei Fernanda depois uma vez na sorveteria. Ela ainda mora na mesma quadra, no prédio do meu melhor amigo. Não sei o que aconteceu com ela, se hoje é uma boa pessoa ou se continua a mesma menina mimada de sempre. Também não me interessa saber. A convivência com Fernanda na infância foi tão insignificante que  só me lembro de suas maldades e da viagem que fiz ao Rio de Janeiro com sua família (na verdade só me recordo da galinha preta de macumba que encontrei numa praia).

Essa historinha só serviu para entrar em outro assunto: trote. este pode ser por telefone, que nem a Fernanda fazia, mas há outros tipos. Nesse caso específico, tem o trote dos calouros, tradição supimpa repetida nas universidades do nosso Brasil varonil. Eu não queria entrar nesse assunto, mas me sinto tentada. Passei exatamente 33 minutos discutindo isso no telefone com o meu namorado, e antes estava acompanhando a discussão no blog da Lola, que você pode espiar aqui e aqui. 

O que o trote da Fernanda tem a ver com os trotes das Universidades? Os trotes da Fernanda tinham o intuito de lesar e humilhar terceiros. Os trotes das Universidades, a mesma coisa. Resumindo a história para quem não sabe: No trote da Agronomia desse ano, as calouras tiveram que chupar uma linguiça lambuzada no leite condensado. Para quem quiser ver, tem o vídeo no youtube (eu que não vou postar o link aqui!).  Não é uma cena que recomendo assistir enquanto está comendo.

A discussão que surgiu disso tudo é: 1º Trotes são humilhantes? 2º Esse trote específico foi machista? 3º E o livre arbítrio de quem quis participar, conta?

Antes de mais nada, quero deixar claro que as opiniões escritas aqui são minhas e não quero, de forma alguma, dizer que sou detentora da verdade absoluta ou coisa do gênero. Estou aberta ao diálogo desde que ele seja civilizado.

Se trotes são humilhantes, minha opinião é que sim, são. Independente de quem são as vítimas . Claro que há trotes solidários, como é de iniciativa de algumas universidades. Mas o trote de pintar os calouros, sujarem, rasparem suas cabeças e os mandarem pedir dinheiro no sinal é humilhante. Eu não gostaria de ficar lambuzada de lama, tinta, água de peixe e sem sapatos pedindo dinheiro num semáforo. Ainda mais fresca do jeito que sou. Eca! Chupar uma linguiça que passou por diversas bocas antes da minha muito menos.

Se o trote específico da agronomia foi machista, sim ele foi. Estava discutindo isso com o Fabricio, e ele me indagou se repreender mulheres simulando sexo oral não era moralista. Aí que entra a questão do contexto. O que tem de mais tem no sexo oral? O que tem de mais na mulher praticá-lo e exercer sua sexualidade livremente? Nada! Aliás, seria ótimo se pudéssemos ser verdadeiramente livres, sem ter a sociedade inteira nos vigiando e dizendo o que devemos fazer com nossas vaginas e bocas. A questão é: os veteranos de agronomia estavam propondo a liberação sexual feminina? Ao colocar uma linguiça lambuzada no leite condensado, enquanto gritavam para as calouras "Chupem até o ovo. Isso aeê, garganta profunda! Iiiiieeeeiiiiii! Uhhhhhhuuuuuu Sekiçu oral(adaptação minha)!!!" eles estavam dizendo para as mulheres serem livres? A única coisa que vi foi o contrário. O mero fato das pessoas fazerem do sexo oral uma piada e motivo de chacota, só mostra como a sociedade está desacostumada com a sexualidade feminina. Isso faz com que o moralismo não esteja mais presente no discurso das pessoas que não concordaram com o ato (feministas ou não), mas sim no discurso daquelas que entraram em alvoroço e repetiram zombarias ao se depararem com tal simulação. No vídeo disponível do youtube, um dos comentários diz o seguinte: "aiai essas meninas ainda fkaram na fila esperando a vez delas ,são troxas e ,são muito é safadas queriam mostra p/ meninos q sabem chupar aiai ..."

Isso prova que, mesmo as que fizeram por livre e espontânea vontade, aindas são tidas como "safadas". E não duvido nada que muitos dos que presenciaram o trote (não só alunos da agronomia, mas de outros cursos que ali estavam) também devem ter falado a mesma coisa. Afinal, mulher simulando sexo oral só pode ser vadia mesmo. O que querem afinal? Se você desaprova, você é uma chata. Se você aprova, você é uma puta. E vâmo que vâmo! Fico com a opinião de que se a sexualidade feminina fosse vista com naturalidade, ela não seria usada em um trote.

Nisso passamos pela ponte JK e chegamos a outra questão, a do livre arbítrio. Eu não estava lá e não posso dizer se elas foram forçadas ou não a chupar linguiça, apesar de não duvidar da grande pressão para as mesmas fazerem isso. Como algumas pessoas já pontuaram, muitos aceitam passar pelo trote pela pressão do momento, e por acreditarem que dessa forma estariam se enturmando com os veteranos descoladex do curso. Há também a questão do "vou passar por essa humilhação agora, mas semestre que vem sou eu que estarei dando trote nos outros" e assim a tradição se conserva. O negócio é, foram as próprias alunas do curso que denunciaram o trote à secretaria de política para as mulheres. Não sei quem denunciou ou quantas foram, mas o simples fato de algumas terem se incomodado, é sinal de que a brincadeira não foi tão bem aceita assim.

Porém (há sempre um porém) não posso dar uma de feminista-bem-informada-e-resolvida e tentar salvar as pobres-mulheres-não-feministas-e-desinformadas-da-própria-condição, que coitadas, o que seria delas sem mim? Se algumas outras calouras já disseram que participaram porque quiseram e que não se sentiram humilhadas, o que posso fazer? Tratá-las como seres incapazes de pensar por si mesmas me colocaria na mesma posição que os misóginos. Com isso eu estaria desqualificando-as e reduzindo-as e não farei isso. Contudo a discussão é importante, os questionamentos também, e isso não me impede de vomitar para qualquer trote ou outra espécie de humilhação que eu julgar conveniente. Isso serve para abrir o debate: Porque trotes ainda são praticados e o que tem de legal neles? Porque gritar zombarias enquanto uma mulher simula sexo oral é machista? Até onde vai o livre arbítrio das pessoas? Elas são verdadeiramente livres? O que é ser livre afinal, cara-pálida?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011



Olha só amor, aquela foto que você tirou do cigarro bailarino realmente ficou com formato de coração!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ele era meu colega de colégio, riquinho, burro e crente. Era um verdadeiro idiota, juro. Vivia de topete se enturmando com todos, forçava amizade, por anos forçou comigo, e fazia o favor de me acompanhar todos os dias no ônibus. Infelizmente pegávamos a mesma linha. Infelizmente o aguentei durante todo o ensino médio e parte do ensino fundamental. Felizmente ao terminar o colégio, perdemos contato.

Um dia ele arrumou uma namorada. E vivia mostrando a foto dela para todos, e as cartas de amor trocadas também, cheias de erros gramaticais. E dizia que ela era rica, que o sogro tinha uma casa em cada capital brasileira, e que eles iam à Europa todo ano. A mentira era tão absurda que acho que nem o Eike Batista tem uma casa em cada capital. Começamos a desconfiar.

Ele fez um churrasco em comemoração a sabe-se lá o que. Eu fui, meus amigos foram, e não tinha cerveja no churrasco crente. E Diante do Trono ficou tocando durante horas. E o churrasco estava completamente boring. A namorada dele, ryca e phyna estava lá. A menina era um amor. A menina era boa demais para ele. A menina estava chamando a empregada da casa de mãe. A empregada da casa ERA a mãe da menina.

Ele tinha vergonha da condição social da namorada, mas eu - e todos os outros - enxergavam mais motivos para ela ter vergonha dele do que o contrário. Ela era boa demais para ele. Ela era inteligente e bonita, e ele era burro e feio. O deixamos ciente disso.

Meses depois ele levou um pé na bunda. Bem merecido, diga-se de passagem.

sábado, 8 de janeiro de 2011

(Ao som de Bach pq é esse que traduz).

- Fiz um curso de memorização, e lá aprendi que é bom estudar ouvindo Bach - disse minha colega de trabalho.

Sabem o que eu fiz? Hoje comecei a estudar ouvindo Bach, mesmo que meu namorado tenha falado que não tem nada a ver. Não sei se funciona, mas eu gosto de Bach. Ao mesmo passo que não ajuda, também não atrapalha. Fora que é ao som de Bach que as recordações vem à tona. Claro, o capítulo do Ginzburg ajuda mais ainda.

Um pouco mais cedo entrei no messenger, e minha bff (dando uma de miguxa que assiste, sei lá, Sex and the City) que está fazendo Mestrado em Portugal veio falar comigo. O diálogo foi mais ou menos esse: 

Carol'sss: E aí, como você está?
Uéslian Roriz - Eu quero defender toda aquela corrupção: uma pilha de nervos
insegura tb
prova pro mestrado semana que vem :(
Carol'sss: sério???
Uéslian Roriz - Eu quero defender toda aquela corrupção: sério
Carol'sss: você vai se sair bem
relaxa
relaxa mesmo
você sempre foi boa no que fez

Todos já me diziam que eu me sairia bem, que sou inteligente, que não era para eu me preocupar, porém foi somente com as palavras de Carol que me toquei. E não foi um me tocar do tipo "uhuuu já estou dentro do mestrado!" e sim um que, apesar de estar consciente das chances de não passar (o que sempre estive), também me deixa consciente das chances de conseguir, o que realmente me estava faltando. Foi a frase "você sempre foi boa no que fez" que me despertou para o princípio básico de que temos sempre 50% de chances de acertar e 50% de chances de errar, e se é isso que sei fazer (e que quero continuar fazendo), tenho que dar a cara à tapa. Como já disse minha tia: "Só erra quem tenta". 

Esperemos.





"Nenhuma luta haverá jamais de me embrutecer, nenhum cotidiano será tão pesado a ponto de me esmagar, nenhuma carga me fará baixar a cabeça. Quero ser diferente, eu sou, e se não for, me farei." (Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011


Minha amiga Flor chegou do Ceará e além de um porta moedas lindo e uma cocada, também me trouxe esse presente acima que eu adorei! Isso mesmo, é literatura de cordel sobre a Lei Maria da Penha, de autoria do Tião Simpatia (que não só é repentista, como também é cantor, compositor e educador).

Apesar de todas as falhas e do machismo da sociedade brasileira (inclusive dos profissionais das delegacias, justiça, etc), que impede que a lei seja aplicada de forma plena, a proposta da lei Maria da Penha é mais do que válida. Foi uma conquista da Justiça brasileira (e nossa, mulheres!) ter um dispositivo como ela. 

Fora que literatura de Cordel me fascina. Na verdade tudo o que pode ser concebido como cultura popular me leva ao delírio. 

Sem maiores delongas, aqui vão alguns trechos: 

I

A Lei Maria da Penha
Está em pleno vigor
Não veio pr'a prender homem
Mas pr'a punir agressor
Pois em "mulher não se bate
Nem mesmo com uma flor"

II

A Violência Doméstica
Tem sido uma grande vilã
Por ser contra a violência
Desta Lei me tornei fã. 
Pr'a que a mulher de hoje 
Não seja vítima amanhã

XXXII 

Espero ter sido útil 
Neste cordel que criei 
Para informar ao povo 
Sobre a importância da Lei 
Quem agride uma Rainha 
Não merece ser um Rei.

Eu achei show! Obrigada Flor!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A foto da "capa" do blog foi tirada por mim, em minha casa no mato no interior do Goiás. 

Vou contar um segredo: Tenho medo de qualquer coisa alada. Tenho medo de passarinhos, borboletas, mariposas e outros animais voadores. Quando um pássaro voa em minha direção, entro em pânico, grito, faço escândalo.

Aí a mariposa apareceu em nossa casa e as crianças entraram em euforia. Fabricio, como bom biólogo, foi dar o seu parecer. Sem medo algum pegou a mariposa nas mãos e ficou "brincando" com ela. As crianças não tiveram medo de se aproximar, e quando vi já estavam fazendo carinho na mariposa também. Que vergonha, meu sobrinho de dois anos não teve medo de tocar na mariposa, enquanto eu só ficava olhando de certa distância. 

Mas confesso que a cena estava realmente bonita. A cena do meu namorado cercado de crianças, com a mariposa voando ao redor dele, me transformou em uma namorada babona. Ela saía de sua mão e pousava em seu ombro, seu braço, sua orelha. Pelo visto a mariposa achou o Fabricio irresistível. Partilho da sua opinião, o acho irresistível também.

O momento tão bonito me fez esquecer, por alguns minutos, que eu tinha medo. A vontade de fotografar o meu namorado e as crianças com o bichinho era maior do que o medo. Nem me dei conta que lá para as tantas, eu já estava entre eles também (mas claro, sem tocar na mariposa).

Aqui estão algumas fotos: 




O que ela quer de mim é coragem, já disse o João. E eu faço de conta que sou corajosa. Mas faço tão bonito, que ela até acredita. ("Pequena" Cristiana Guerra)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Faltam quatro páginas de Jacques Revel e umas doze de Roger Chartier. Se conseguirei terminar? Sim, conseguirei. Eu sempre consigo terminhar uma resenha, ou duas, ou três. O Ringo dorme na cama. Hoje entrei em contato com três seres humanos: a Bel, minha mãe e meu namorado, mas hoje sou toda do Ringo, respiro o Ringo, Ringo é minha rinite sentimental.

Tento procurar inspiração para inscrever um texto. Procuro qualquer vestígio de sentimento. Tenho sentimentos, eles afloram, mas não consigo escrevê-los. Acho que ligarei para alguém perto da meia noite.

Eu quero entrar no mestrado, é só o que consigo pensar. Me penalizo a cada hora que não estou estudando. Estou me penalizando agora.

O último filme que vi era sobre uma bailarina que insandecia. Consegui assisti-lo inteiro e sem legenda, pontos para mim. A última vez que escrevi um texto foi sobre a TFP. Há quanto tempo não escrevo algo sem qualquer pretensão social, intelectual ou militante? Hoje cansei de ser militante. Queria só sentir, e talvez descrever sobre as sensações.

Eu sinto fome e tenho preguiça de cozinhar. Quero uma coca-cola. Não, não é sobre esse tipo de sensação que eu deveria escrever. Eu quero romance, mas já tenho, já o vivo, porque escrever sobre ele? Poderia escrever sobre amores inventados, mas estes foram superados e enterrados, bem no fundo do quintal. Eu sinto a necessidade de ser eu mesma, mas quem diabos eu sou? Eu sinto a necessidade de me sentir (não estou falando de masturbação, ô machinho do piupiu duro!). Sabe, de me encontrar e me reconhecer. Não me reconheço. Sou uma prostituta acadêmica que talvez esteja em seu ensaio de morrer para a vida. Talvez...

Vou largar a especialização, aconteça o que acontecer. Vou entrar na UnB nem que seja como aluna especial. Serei devorada por todos os cérebros infinitamente superiores ao meu, para um dia ter um cérebro superior também, e quando eu envelhecer não pintarei os cabelos. Não precisarei de vaidade, não precisarei de dinheiro, não precisarei de nada. Somente de uns livros velhos.
Ó galera, estou morrendo.
 
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